Quem somos?!



Pensamos a arte de uma forma livre... Foi a partir daqui que nos juntámos e formámos a C.A.L. uma comunidade aberta a ideias, projectos, abraçando alternativas ao que de convencional se faz por aí. Trabalhamos a arte no sentido de dar e abrir a públicos que procurem estímulos diferentes, num processo de desconstrução e recriação. Como refere Antonin Artaud, antes de mais nada, necessitamos de viver, necessitamos de acreditar no que nos faz viver e em que algo nos faz viver (…).
Desta forma tentamos unir artisticamente o Teatro, a Música e as Artes Plásticas numa atitude de exploração conjunta da arte, do corpo, dos materiais, sons, das palavras, das ideias, das ambiências, dos processos, dos sentidos. Procuramos desde o silêncio ao grito, explorar os limites e reencontrar a liberdade de criar, sem a dependência total das instituições e do capital como base da criação.
Descartes diz-nos: age com mais liberdade quem melhor compreende as alternativas em escolha. Quanto mais claramente uma alternativa apareça como a verdadeira, mais facilmente se escolhe essa alternativa.
Caminhemos então em direcção às alternativas.
A.M.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Simplesmente uma observação

O texto que se segue é apenas aquilo que me apetece dizer neste momento, que nem eu mesma sei muito bem o que é.
Num olhar aprofundado sobre o trabalho, empenho, dedicação, amizade, entrega, diversão, criação, conversas, oscilações, vontades, partilhas que temos feito enquanto CAL, fica, entre muitos outros sentimentos, a certeza de quem somos, a certeza da determinação criativa de quem faz aquilo que quer, que gosta, que sente, sem depender de praticamente nada a não ser de nós próprios.
Nem sempre é fácil, sentarmo-nos, com uma garrafa de vinho para ajudar à conversa, as ideias a surgirem, os projectos a quererem surgir, e depararmo-nos com as dificuldades económicas e burocráticas de o fazer, mas também é exactamente isso que nos faz superar aquilo que pensávamos serem obstáculos criativos.
No final da apresentação da primeira sessão, numa destas conversas da comunidade, observei um pensamento tive enquanto deambulava pela minha casa, no burburinho nervoso de quem vai estrear um espectáculo… «Onde andarão os representantes da cultura da nossa cidade?». Foram convidados, obviamente, tiveram conhecimento do projecto, do seu desenvolvimento, das suas apresentações, como fizemos, aliás, com todos aqueles que nos estão ligados, mas, ao contrário da maioria destes, os representantes da secção cultural da CME não compareceram.
Fica a pergunta: Como? Como podem esses senhores representar tal departamento, se não se interessam ou não procuram o que de alternativo se faz numa cidade tão pequena, como Évora? Precisamos ter um “nome”? Uma “imagem” mais forte? Mover mais público ou mais dinheiro?
Gostava muito que, se por acaso alguém ler este pequeno documento, que não interpretasse isto como uma afronta ou critica depreciativa, pelo contrário, o que pretendo, é exactamente e simplesmente fazer pensar, fazer descer, quem está no topo hierárquico da movimentação cultural, aos universos alternativos daqueles que criam apenas porque amam o que fazem, e que o fazem apenas porque querem dar um pouco de si e da forma como vêem o mundo, movimentando públicos diferentes, de vontades diferentes e com criticas diferentes.
Fica aqui então o convite às entidades da cultura da cidade de Évora, como a todos os outros que vão sabendo de nós, que compareçam, critiquem, manifestem o seu ponto de vista, ao que de humilde se vai fazendo na CAL.

Atentamente
A.M.L

3 comentários:

  1. Concordo e Reforço!

    Eu Amo aquilo que faço.
    :)


    Lígia Santos
    (Psiquiatra para toda a vida)

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  2. Concordo com o que escreves. Andamos cada vez mais alheados do que se passa à nossa volta! E ao invés de uma cultura de responsabilidade pública para com os munícipes, acentua-se o estado de lassidão, de deixar acontecer as coisas sem meter mãos à obra. Quem detem o poder pensa muito assim. Vivemos num país que nunca prezou a qualidade do que se faz. Para nós o que conta é ir fazendo, desenrascar-se.
    Vivemos também numa sociedade dita da era da informação e da comunicação, mas paradoxalmente com todas as tecologias de que dispomos, comunicamos cada vez menos uns com os outros. Comunicar no sentido verdadeiro da palavra, isso não acontece. Temos telemóveis, internet, mas são usados apenas como prolongamento dos nossos egos, do nosso individualismo crescente. Parece estranho e perverso, não é? Mas felizmente isto não acontece com todas as pessoas. Existem algumas que utilizam a informação para a partilha, para a tertúlia. E agradeço-te, pois tu és uma daquelas que o fazes desse modo. Não é para teres estatuto nem prestígio, mas para troca de ideias. Mas no geral, esta sociedade tecnocrata tem produzido mais solitários e mais adeptos do "Me Myself and I" que as anteriores. Pessoalmente, tenho saudades da ideia de comunidade em partilha, vivendo todos juntos ou perto uns dos outros, sendo todos amigos, fazendo infindáveis tertúlias pela noite dentro, após uma noite de criação, de ensaios, de uma sessão cultural. Saudades dos tempos de Pessoa, do Torga, do Cesariny, do Luíz Pacheco, do Cardoso Pires. Juntavam-se nos cafés, nas sociedades e não eram só artistas, mas também todos os que quisessem e estivessem nesses locais. Aprendiam, partilhavam histórias, faziam coisas em conjunto e para o interesse comum.
    Dou-te alguns exemplos que têm acontecido comigo, pelo meu desejo urgente de comunicar, de partrilhar coisas, fazer acontecer, mexer-me e mexermo-nos. Muitas vezes sinto que as pessoas olham com desconfiança a minha atitude, como se fosse estranho, ou maluco, ou quiçá perverso. Andamos todos de pé atrás uns com os outros. Por vezes fico muito incomodado e desorientado com tudo isto. Sociedade da comunicação? Onde???
    Desculpa esta conversa, parece que desviou-se da tua premissa original, mas "en passant" fez-me reflectir sobre todas estas coisas.
    Um beijo. Espero que quando tenha uns dias de férias possa ir aí ver um evento vosso.

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  3. O teu texto vem muito a propósito do que se passa por muitos locais neste país e por artistas que querem apenas pôr as suas ideias em prática mas que lhes são vetadas por uma máquina que os asfixia e mata em surdina. Contudo o espírito de partilha, comunhão é essencial para manter o que resta de uma conceito de arte partilhada, conspirada em tertúlias, por entre esforço e risos perseverantes. Sinto saudade, como refere o Deu da Máquina da comunhão nas mesas de café por entre o bulíçio de ideias. Enfim, apesar de tudo isto a liberdade está dentro de nós sempre e essa ninguém a pode roubar. :) Um grande abraço. Um dia passarei por aí! Over_dreams

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