Actriz e espectadora do meu teatro do mundo, deito os foguetes, convido e aplaudo.
Acuso os outros quando me queimo. Não tenho coragem nem amor próprio.
Zombam de mim. Dizem que não sou capaz de fazer um filho vivo, mais do que uma marioneta na ponta da guita…
Faço de conta que vivo e logo a seguir que morro.
Um escarrito sem jeito mal tirado.
Tosse fraca.
Pigarro.
Nada.
Perdão.
É-se educado ao tossir.
Põe-se a mão diante da boca.
Pede-se desculpa.
Foge-se.
Vergonha.
Mexo-me, gesticulo, desarticulo-me.
Sou de papelão.
Vejo cada uma das partes do meu corpo separada, exacta, decepada, precisa, isolada, desligada das outras: a boca, o nariz, o olho, o outro.
Repito: a boca, o nariz, o olho, o outro.
As palavras não fazem sentido. Já não representam nada.
Sons somente.
Deito-me aos pés da Senhora Psiquiatra. O silêncio é bom. Não nos mexemos.
Como em cima de uma almofada. Já não bulimos.
Enroscamo-nos com sorrisos de gato.
Observo-lhe as pernas. Uma liga preta fina frisada termina na presilha entre nylon e a pele.
Duas ligas esticadas quando ela se levantar.
Mais acima a cinta elástica deve tapar-lhe o umbigo, segurar-lhe o ventre redondo.
As meias repuxadas.
O sexo castanho dourado. Vermelho no centro.
Somes-te como um bicho por detrás dos teus olhos fechados,
cavas um mísero buraco,
escavas com as unhas no travesseiro,
recusas-te a despertar.
Fez o meu sonho em cacos. Já não respondo.
Hei-de arregaçar a saia, mostrar-lhe o meu segundo rosto e abrir os lábios. Escarlate.
Tu, apodero-me do interior do teu corpo…
O desejo congestiona-me os lábios.
O desejo tortura-me a fenda. A ferida que tenho no ventre tornada
Esta espécie de meio-pau mutilado. Um sexo sem passado doente
Decidi: A loucura escolhida escrita nas folhas, esta loucura feita com as minhas palavras e os meus desejos.
Lancei-me no delírio como uma imensa extensão de água à minha frente, impelida e atraída pelo meu duplo.
Os outros na margem, tentavam recuperar-me, interromper-me.
Proibiam-me que ultrapassasse as fronteiras da decência.
Investiam, seduziam-me com drogas, ameaçavam-me.
Eu fugia para mais longe.
Uma Normal Loucura em esquissos de uma beleza
ResponderEliminarsem fim, na exegese inaudita de uma texto com
uma força telúrica e humana grandíloca!