Quem somos?!



Pensamos a arte de uma forma livre... Foi a partir daqui que nos juntámos e formámos a C.A.L. uma comunidade aberta a ideias, projectos, abraçando alternativas ao que de convencional se faz por aí. Trabalhamos a arte no sentido de dar e abrir a públicos que procurem estímulos diferentes, num processo de desconstrução e recriação. Como refere Antonin Artaud, antes de mais nada, necessitamos de viver, necessitamos de acreditar no que nos faz viver e em que algo nos faz viver (…).
Desta forma tentamos unir artisticamente o Teatro, a Música e as Artes Plásticas numa atitude de exploração conjunta da arte, do corpo, dos materiais, sons, das palavras, das ideias, das ambiências, dos processos, dos sentidos. Procuramos desde o silêncio ao grito, explorar os limites e reencontrar a liberdade de criar, sem a dependência total das instituições e do capital como base da criação.
Descartes diz-nos: age com mais liberdade quem melhor compreende as alternativas em escolha. Quanto mais claramente uma alternativa apareça como a verdadeira, mais facilmente se escolhe essa alternativa.
Caminhemos então em direcção às alternativas.
A.M.

sábado, 26 de março de 2011

13ª Casa do Zodíaco


13ª Casa do Zodíaco é a nova produção C.A.L., inserida no projecto de mestrado da Ana, na Universidade de Évora, uma adaptação do texto "Casa do Incesto" de Anais Nin.

Juntamos o trabalho da comunidade ao de novos actores e técnicos, resultando um projecto com o uso de várias técnicas que contribuem para a plasticidade do espectáculo.

Este projecto estará em cena nos dias 31 de Março, 1 e 2 de abril de 2011, na sala preta do edifício de Artes Cénicas do pólo dos Leões da Univ. de Évora.


Entrada livre mediante marcação para:

geral_C.A.L@sapo.pt

961248405/914851606




"Cheguei através de uma floresta de árvores decapitadas, mulheres esculpidas em bambu, carnes flageladas como a dos escravos numa escravidão sem prazer, faces divididas em duas pela faca do escultor, mostrando duas faces para sempre separadas, eternamente duas, e tive eu de deslocar-me para descobrir a mulher completa.

Figuras truncadas, onze faces, onze ângulos, de madeira frágil e venal, fragmentos de corpos, sem braços e sem cabeças. Um torço-tubérculo, calcanhar de Aquiles, tobérculos e excrecências, pé de múmia de madeira podre, madeira dócil e venal esculpidas em contorções humanas. É preciso que a floresta chore e se dobre como ombros de homem, figuras mortas dentro de árvores vivas. Floresta agora animada de rostos - intelecto, contorções de espírito. Árvores desviando em homem e mulher, bi-faces, tornando-se nostálgicas ao mexer das folhas. Árvores que se deitam, troncos luzentes, floresta sacudida de uma revolta tão amarga que eu ouvia gemer dentro da sua mais profunda consciência vegetal.

Chorando a perca das folhas e o fracasso da sua transmutação."


Anais Nin - A Casa do Incesto




13ª Casa do Zodíaco nasceu da vontade de trabalhar um texto não teatral, poético, que traduzisse universos que tratassem a arte e os sentimentos de forma genuína e com o qual me identificasse de uma forma pessoal.



Anais Nin, escritora que já faz parte da minha estante de livros há algum tempo, dá muito da sua vida em tudo o que escreve, e foi sem hesitação que me propus a este texto, desafiando-me desde a dramaturgia, passando pelo processo, até à proposta de espectáculo.



A autora invade-nos, no texto A Casa do Incesto, de referências mitológicas que se interligam com referências autobiográficas, abrindo um leque de hipóteses para a exploração prática destas palavras. Pessoalmente optei por tentar explorar um pouco das duas referencias, embora sempre procurando o meu espaço por entre estas linhas objectivando a criação de uma linguagem própria.



Parti de uma premissa: fundir corporalidade e texto num trabalho multidisciplinar. Dois universos que me são inerentes, o trabalho de corpo e o trabalho de texto, explorando-os através de propostas de exercícios e estímulos constantes.



Os estímulos: música – sempre muito presente e incitadora de universos imagéticos; imagem – como complemento e alimentando o trabalho de exploração performativa; elementos plásticos – para desenvolver acções em cada universo e cenografando, de forma minimalista, o espaço.



Não sei explicar sucintamente este processo. Foi, e será até ao último dia, forte, difícil, denso, envolvente e aliciante.



A 13ª casa do zodíaco é o resultado de um processo de 1 mês e meio de trabalho em equipa, transportando para cena uma proposta, em aberto, do que poderá ser um espectáculo e a transposição do livro A Casa do Incesto para um espectáculo multidisciplinar.



A todos os que montaram comigo esta floresta, o meu muito obrigado.



A todos os que estiveram comigo desde o inicio deste Mestrado, acreditando, incentivando e apoiando, dedico este trabalho de todo o coração.



Ana Margarida Leitão




Ficha técnica: Encenação: Ana Leitão Interpretação: Henrique Calado, João Luz, Mafalda Marafusta, Paulo Pimenta, Rita Costa, Rubi Girão e Vanda Rodrigues. Música: Diogo Penas e Miguel Alegria. Cenografia e adereços: Catarina Castanho e Daniel Figueiredo. Desenho de luz: Joana Velez e Nando Zambia Multimédia: Ricardo Fernandes Design: Leopoldo Antunes Operação de som: Alexandre Pais Operação de luz: Joana Velez Operação de vídeo: Daniel Figueiredo Produção: Rubi Girão

segunda-feira, 14 de março de 2011

Sobre a geração à rasca

Numa viagem de bus… meti-me a pensar, coisa para a qual ainda não preciso pagar nem pedir licença, e posso faze-lo em silêncio para não incomodar! Sim, porque os pensamentos desta geração fazem barulho, e incomodam mentalidades que olham de esguelha os problemas que nos impõem.

Caminham no seu paço e dizem que isto de desemprego faz acomodar, e que os jovens gostam de não fazer nenhum. Seremos assim tantos a sofrer desse mal? Será que somos mesmo nós que não queremos fazer?

Somos tantos… tantos os que querem e por incapacidade não podem… Capazes mais que nunca, só barreiras se levantam.

Somos criativos muitos, “idiotas” tantos, convictos grande parte, perdidos também, cultos de tanto que estudamos à espera de um trabalho, livres porque sim, destemidos porque queremos, rebeldes também, alcoólicos obviamente, desinteressados alguns, apaixonados outros, inteligentes, burros, parvos diz Deolinda, rascas chamam-nos os “grandes”, apáticos, activos, sujeitados… somos tudo isto. Somos vagabundos sociais sem espaço para poder construir o que temos dentro.

E vem o 12º, já não chega. Licenciatura, o que é isso? Agora Mestrado, Srs. mestres de nada… Doutoramento? Para quê? Quando?!

Pois. Lá vem o tacho que o primo arranjou, ou o cordel que mexeu o tio… e a carteira dos pais que podem.

E nisto passamos 30 anos da vida na escola, a aprender, aprender, aprender?!, ” aprender”, a apren… apre… ap….aaaaaaaaaaaa…..

Pois bem. Estaremos juntos na estupidez profunda do que nos oferecem, e da nossa parte, não deixaremos de fazer barulho, de mexer e agitar as águas. Sentar-nos-emos em todas as mesas de quem nos queira ouvir, e ainda pagamos o café!

Só nunca esquecendo quem somos e de onde viemos, para que nesta luta pelo trabalho não nos tornemos escravos de uma sociedade que formata cabeças! Se pretendemos ter um pouco do que merecemos, ao menos que dentro desse pouco o façamos na autenticidade daquilo que somos, porque de modelos standard já estamos todos fartos e são esses modelos que nos deixam agora aflitos na nossa individualidade.