Quem somos?!



Pensamos a arte de uma forma livre... Foi a partir daqui que nos juntámos e formámos a C.A.L. uma comunidade aberta a ideias, projectos, abraçando alternativas ao que de convencional se faz por aí. Trabalhamos a arte no sentido de dar e abrir a públicos que procurem estímulos diferentes, num processo de desconstrução e recriação. Como refere Antonin Artaud, antes de mais nada, necessitamos de viver, necessitamos de acreditar no que nos faz viver e em que algo nos faz viver (…).
Desta forma tentamos unir artisticamente o Teatro, a Música e as Artes Plásticas numa atitude de exploração conjunta da arte, do corpo, dos materiais, sons, das palavras, das ideias, das ambiências, dos processos, dos sentidos. Procuramos desde o silêncio ao grito, explorar os limites e reencontrar a liberdade de criar, sem a dependência total das instituições e do capital como base da criação.
Descartes diz-nos: age com mais liberdade quem melhor compreende as alternativas em escolha. Quanto mais claramente uma alternativa apareça como a verdadeira, mais facilmente se escolhe essa alternativa.
Caminhemos então em direcção às alternativas.
A.M.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Processo Plástico Criativo

Só Trato Loucas Normais



Actriz e espectadora do meu teatro do mundo, deito os foguetes, convido e aplaudo.

Acuso os outros quando me queimo. Não tenho coragem nem amor próprio.

Zombam de mim. Dizem que não sou capaz de fazer um filho vivo, mais do que uma marioneta na ponta da guita…

Faço de conta que vivo e logo a seguir que morro.





Um escarrito sem jeito mal tirado.

Tosse fraca.

Pigarro.

Nada.

Perdão.

É-se educado ao tossir.

Põe-se a mão diante da boca.

Pede-se desculpa.

Foge-se.

Vergonha.




Mexo-me, gesticulo, desarticulo-me.

Sou de papelão.

Vejo cada uma das partes do meu corpo separada, exacta, decepada, precisa, isolada, desligada das outras: a boca, o nariz, o olho, o outro.

Repito: a boca, o nariz, o olho, o outro.

As palavras não fazem sentido. Já não representam nada.

Sons somente.




Deito-me aos pés da Senhora Psiquiatra. O silêncio é bom. Não nos mexemos.

Como em cima de uma almofada. Já não bulimos.

Enroscamo-nos com sorrisos de gato.

Observo-lhe as pernas. Uma liga preta fina frisada termina na presilha entre nylon e a pele.

Duas ligas esticadas quando ela se levantar.

Mais acima a cinta elástica deve tapar-lhe o umbigo, segurar-lhe o ventre redondo.

As meias repuxadas.

O sexo castanho dourado. Vermelho no centro.






Somes-te como um bicho por detrás dos teus olhos fechados,
cavas um mísero buraco,
escavas com as unhas no travesseiro,
recusas-te a despertar.




Fez o meu sonho em cacos. Já não respondo.


Hei-de arregaçar a saia, mostrar-lhe o meu segundo rosto e abrir os lábios. Escarlate.




Tu, apodero-me do interior do teu corpo…

O desejo congestiona-me os lábios.

O desejo tortura-me a fenda. A ferida que tenho no ventre tornada em sexo.


Um buraco… finalmente… é tudo…
Esta espécie de meio-pau mutilado. Um sexo sem passado doente



Decidi: A loucura escolhida escrita nas folhas, esta loucura feita com as minhas palavras e os meus desejos.

Lancei-me no delírio como uma imensa extensão de água à minha frente, impelida e atraída pelo meu duplo.

Os outros na margem, tentavam recuperar-me, interromper-me.

Proibiam-me que ultrapassasse as fronteiras da decência.

Investiam, seduziam-me com drogas, ameaçavam-me.

Eu fugia para mais longe.





quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Palavras Lidas

Nada melhor do que abrir um livro, uma revista, uma carta, um jornal... e deixarmo-nos surpreender pela compreensão das palavras, que parece existir, escritas por um alguém que não conhecemos de lado algum, mas que fazem todo o sentido para nós, mesmo que o tema possa parecer tão antagónico.
Assim, foi ainda este sábado que, ao abrir uma revista, na primeira página vejo este texto.
Institivamente tive de o vir inscrever nesta fachada caiada.

E diz Pedro Rolo Duarte:

"O país invisivel
Enquanto nos queixamos e enchemos a vida de lamúrias; enquanto julgamos os outros sem muitas vezes olharmos para nós proprios; enquanto discutimos irrelevancias e buzinamos no carro por razão quase nenhuma; enquanto relevamos dos dias o que menos conta no balanço final...
...Enquanto a imagem vale tudo e pela imagem quase todos procuram os seus cinco minutos de glória; enquanto atrás da imagem vão politicos e jornalistas, quem decide e quem pode mudar; enquanto fazemos a proporção da relevancia pela popularidade e nmenosprezamos o pormenor em função do efeito especial...
...Enquanto damos sentido e espaço ao olhar ácido do poeta: - "Estamos todos bem servidos de solidão. De manhã a recolhemos do saco, em lugar de pão"...
...Enquanto diabolizamos o dinheiro mas a ele nos submetemos; enquanto fazemos do consumo uma palavra de ordem e do desperdicio um modo de vida; enquanto nos centramos em manter a aparência e desprezamos o que tapa essa aparência...
...Enquanto dormirmos tranquilos porque temos na lapela o autocolante da pequena contribuição; enquanto nos basta a moeda ao arrumador e o cego que ajudamos a atravessar a passadeira; enquanto sentimos dever cumprido porque demos roupa velha aos pobres...
...Enquanto tudo isso compõe a nossa vida triste e diária, "o modo funcionário de viver" que O´Neil tão bem escreveu, há um Portugal invisivel que não espera por eleições nem anda aos gritos na rua, que não pretende maiorias absolutas nem se resigna no queixume, que tem capacidade de agir sem pedir nada em troca, que dá sentido à vida prolongando outras vidas, melhorando outras vidas. É um Portugal feito de gente igual a nós, a qualquer um de nós - mas é um Portugal melhor, porque deu parte do seu tempo aos outros sem querer nada em troca, a não ser a satisfação de ter dado.(...)"


Tantas palavras podem ser ditas a partir daqui, tantos pensamentos e deduções de quem é e pode ser este "país invisivel", de quem se sente parte ou fora desta "invisibilidade", que estando para além da imagem ou da não imagem, está na vontade e no que nos move a viver...
Pois bem, Pedro fala dos Voluntários do nosso país... Mas aqui fica o meu desafio lançado com um sorriso: quem são os "invisiveis" deste mundo?

Manifestem-se
CAL comunidade de artistas livres

O Regresso de Quem Sempre Andou por Aqui


Regressámos calmamente das merecidas "férias?!!", onde mais juntos ou afastados, fomos caiando algumas paredes e alimentando mais ideias.
Desde já temos um pedido de desculpa a fazer, pois por motivos de prioridade, tivemos de adiar as sessões de " TrATo LoUCas nORmAIS" para mais tarde. Estão previstas a partir de Janeiro, com reposição da 1ª sessão. A nossa intenção é esta, verdadeiramente, tendo em conta que temos de procurar espaços onde apresentar novamente.
Por agora já se vão temperando outros projectos, um ligado à poesia, para breve, mas que não será estreado em Évora e um outro, mais complexo, que volta a ligar todos os elementos da CAL em volta de um texto com o objectivo de transformar as palavras em matéria viva - CARÍCIAS de Sergi Belbel. Assim, contamos agora com novos actores que vieram embrenhar-se na actividade da CAL e contribuir com o que a arte tem de melhor - a atitude! Este projecto partirá, inicialmente, de um trabalho universitário, mas, objectivamos posteriormente poder apresenta-lo ao público em geral.

Noticias Plásticas - o nosso LEOPOLDO ANTUNES, está com uma exposição no PontoE, em Évora! Apareçam!

Entretanto continuamos a fazer da nossa sede as casas de todos nós, o nosso orçamento é o material com que trabalhamos e as instituições, vemo-las quando passamos por elas.

Sempre disponíveis a receber e partilhar ideias, sempre com vontade de um pouco mais, esperamos que nos contactem, que se manifestem, que ousem um pouco por aqui.

Cumprimentos
CAL